domingo, 24 de janeiro de 2010

Borracha

Nossa história poderia ser escrita a lápis, seria mais fácil consertar os erros, remendar as partes e continuar sem você. Isso mesmo, sem você.
Se por acaso fosse assim, hoje te apagaria. Sem receio, apenas com vontade de não persistir no erro pela milésima vez. Se tivesse sorte, te escalaria para ser co-adjuvante da minha vida. Errei ao te nomear o personagem principal do meu enredo, muito antes você seria apenas um transeunte. Uma fala no meio de tantas discussões. Uma sombra naquela rua escura. Não seria nada.
Agora é tarde, mas te dou a liberdade de sair, sem pedir licença. Te quero por inteiro. Viver de meias-verdades? Não. A metade já não me é suficiente. Minto, ela nunca foi.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Quarto

E fui juntando tudo que não prestava, tudo que estava sujo, imundo, o que estava fora do lugar, o que não tinha mais serventia, aquilo que eu não gostava, o que não me servia mais. Peguei de pouco em pouco, aos montes, com raiva, com recordações, sem medo, com vontade. Empilhei e fiquei observando... por horas.
Mudei de ideia. Recolhi o que caiu e guardei. Separei o que eu ainda não tinha cansado de ver e amontoei em um canto qualquer. Enumerei em pensamento quantas vezes já tinha tentado me livrar daquilo tudo. Perdi as contas por conta de um espirro, era muita poeira.
Ouvi alguém dizer "mas ela ainda está lá?". Sim, estou. Como prego na madeira, torto, enferrujado, feio mas, ainda lá. Foi aí que eu encontrei o que eu não esperava. Papel de caderno, amassado, escrita de caneta bic e com as palavras mais esclarecedoras que eu já tinha visto:

"Durante algum tempo fiz coisas antigas como chorar e sentir saudade da maneira mais humana possível: fiz coisas antigas e humanas como se elas me solucionassem. Não solucionaram."
(C.F. Abreu)

Fechei a porta e a tranquei pela última vez. Eu já não precisava de mais nada daquele lugar. De agora em diante vou andar de mãos dadas comigo, ah... o amanhã já chega e o que aconteceu hoje só vai ser mais uma história para quem quiser contar.



*Cantarolei essa o dia todo. Acho que foi porque pensei na Ná. :)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Primeiro

Será que é mais uma? Será que eu vou acreditar em mais uma? Quantas já foram, hein? Afinal, sempre que te vejo é uma nova.
Eu só estou cansada dessa provocação, por vezes involuntária. Dessa mania incessante de se dizer meu e fazer longe dos meus olhos o que reprovo e o que não sei.
Já foram tantas águas, moço. Tantas que até nem sei.

Eu só precisava gritar, e sempre o faço com você...

sábado, 2 de janeiro de 2010

09

Eu precisava falar de você, 2009. Que ano.
Desse eu não vou esquecer tão fácil. Sim, eu já esqueci anos anteriores. O importante é guardar o que veio com ele, nada mais.
Como eu amei, como eu gostei de amar. Ah eu ri, ri noites a fio, ri por ver o sol, ri por ver a chuva, sorri por te ver ir embora. É claro que eu chorei. Chorei o suficiente para aliviar, para fazer parar de doer, para deixar no lenço de papel todo o medo do amanhã. Acho que chorei de tanto rir e ri por me ver chorar. Ironias da vida.
Se 2008 foi o ano de descoberta, 2009 foi o ano da consolidação. Pude, enfim, me ver adulta, não que eu tenha amadurecido o suficiente para tal, mas vi o que eu quero ser. Aprendi tanta coisa, desde uma receita boba até montar uma página de revista. Se você acha que isso é coisa pouca, você não viu minhas olheiras, não provou do meu mau humor e nem teve a oportunidade de me ver com as mãos no rosto.
Abriguei amigos, conheci irmãos, descobri meu ciúme, sorri só porque sabia que ela voltaria, ganhei um 'bem' só meu, cresci o suficiente para chamá-lo de baixinho, ah eu segurei as lágrimas e os risos, diminui apelidos, chorei de tristeza no meu dia, percebi que as vezes precisamos distribuir coleiras para amigas, aprendi que o que dói em mim pode não doer nele,que eu preciso mais de oxigênio do que de uma chapinha, e que tem gente com o coração tão grande mas cheio de mágoa.
Nós sabemos que viver sem erros não tem graça alguma, porém não foi por isso que errei. Talvez tenha sido por egoísmo, medo ou até distração.
Quantas emoções, meu Deus. Quantos 'eu te amo'. Até dei de cara com aquele muro de novo, o da realidade.
Quando você foi embora, eu não prometi nada, eu exigi: quero alegria, felicidade é muito passageira para quem não anda com tanta pressa.
Mais prosa, sem rodeios, um caminho mais largo e um belo pôr-do-sol no pé da minha janela. É pedir demais, 2010?