quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Diga

Quando fugimos demais do mundo caímos sem rumo em lugares obscuros. Se deixamos para amanhã os problemas de hoje, acordamos sem a paz do anteontem.
A bagunça dessa vida torta me mostrou que, seguir em direção na linha das certezas depende apenas de mim, só. Me deparei com pedaços espahados por todo o caminho, tentei recolher todos, mas é pouco o espaço entre meus braços. Sou a incerteza que você deixou ao lado, a angústia que você viu passar e o amanhã que não chegou.
Sou tudo aquilo que não vingou, que prometeu, que não cumpriu. Todas as palavras ditas sem razão, os devaneios perdidos e sua solidão escondida. Fui seu único medo um dia, seu único objetivo, seu principal desejo.
O que corrói é a dúvida, a dívida o telefone mudo. O que fica? A pergunta.
Amaldiçoe meus novos hábitos, minha falta de jeito, os novos detalhes que você não reconhece. Diga pelos cantos que eu mudei, mas não esqueça de dizer o porque.

A saudade da época que eu não precisava de nada além de um teclado para falar por mim.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Quando


Quando tomei a decisão de ir embora, jurei baixinho que ia escrever o suposto texto de despedida apenas quando ela se concretizasse de fato. Menti.
Guardo há dias essa angústia desmedida da partida, essa coisa que é fria e dá calafrios.
Pouca gente sabe, mas eu estou feliz. Preciso de estabilidade, de ter algo para reclamar - mesmo que seja o fato dos meus pais serem atenciosos demais e me amarem incondicionalmente.
Quando tudo isso se tornou concreto e coloquei a primeira parte desses quatros anos dentro de uma caixa, não pude deixar escapar, por um minuto que fosse, minha vontade de ficar com os olhos borrados e inchados. Me contive, porque sofrer por antecedência é um defeito meu, que não pode ser passado adiante.
Quando tive uma das crises por conta dessa mudança, decidi que deveria escrever uma carta para cada pessoa que me deixou estar ao lado, me serviu como muleta e doou um pouco de tudo o que eu precisava durante esses anos. Essa ideia foi esquecida há tempos. Algumas experiência me fizeram céticas em relação ao "para sempre". Aceitei as turras que tudo que começa um dia acaba, pode ser na hora da partida ou em um simples desencontro. Assumo aqui que acabou, talvez um dia eu volte a pertencer a esse lugar, mas por enquanto estou acenando e dizendo adeus, nos vemos por aí.
Soa pessimista, para alguns egoísta. Para mim? A verdade momentânea. Que os dias me façam mudar de ideia.
Quando retirei algumas fotos da parede percebi que as minhas pessoas são outras. As minhas pessoas mudaram. Mudaram de cabelo, de jeito, de sotaque, de estilo, mudaram de tamanho, de importância. A vida se torna melhor quando a gente muda, assim não cansamos de viver.
Quando me pego pensando no por que dos momentos de tristeza, sempre me recordo que já passei por isso e deveria ter aprendido mais com meus erros do passado. A questão de valores é um sério problemas nessa minha vida perdida entre as prioridades e essa relação confusa com a matemática. Talvez eu seja a lição do sábio, o que aprende com os erros dos outros, não com os próprios.
Quando eu sentir de novo tudo isso aqui que eu venho prorrogando, pode ser que esteja sozinha novamente, debruce pela última vez na janela e veja a visão privilegiada que tive durante alguns anos do nascer do sol. Se estiver acompanhada, posso te chamar para ir comigo.
Quando morei sozinha por três anos, me senti livre por três anos, me senti abandonada por alguns meses e só por tantos outros. Fui feliz por quatro, sem sombra de dúvidas.
Eu já não tenho mais manejo com as palavras como antigamente. Estranho, achei ingenuamente que amadurecendo, o mínimo que fosse, faria com que meus dedos digitassem mais rápido e com mais firmeza o que não podia escapar pela boca. Mais uma vez, engano. Fico sem jeito, a falta de pudor com as palavras perdeu-se entre as teclas. Sumiu.
Quando me propus a escrever sobre a última semana, pretendi exalar amor. Uma pena, esse amor guardo aqui, intacto. Comigo apenas. Por fim, todas as palavras só conseguem apontar para uma: saudade.
Pode parecer bobo daqui 10 anos, Gabriela, mas você vai sentir muita saudade.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Do texto na gaveta


Quando eu ainda tinha 18 anos escrevia assim.

"E com a ânsia de conhecê-lo quis encontrá-lo.
- Eu sou a Gabriela, te vejo aqui nessa lista. Seu nome fica sob o meu, nos mesmos dias em que a angústia aqui se faz por completo. Senti que hoje é o dia de te encontrar, não para nos falarmos, mas para agradecer por caminhar comigo nesse lugar. Porque eu sigo seus passos, sinto seu cheiro e ouço seu respirar. Quer ir comigo? Então me siga nesse caminho sem luz nova, mas com a mesma história pra contar.
E passaram-se os dias, da mesma maneira que viro as páginas dos livros, ao mesmo tempo que aqueles pássaros cantam me avisando que o dia já está aí, e hoje é mais um dia em que sigo comigo e sem mim.
Após o recado escrito não te procurei. Não me faltou vontade, mas coragem. Entretanto, sinto que a sua ânsia por respostas passou. Imaginei o seu nome, curando e tapando o vácuo que por aqui se faz presente. Ainda. Vou te procurar por aqui, ali e acolá, na espreita e com a esperança de roubar de ti a mesma resposta que lhe fez bem por todos esses dias."

Hoje faço 21 e vasculho dentro desse corpo a mesma menina que acreditou que apenas um nome poderia mudar a sua vida.


terça-feira, 26 de julho de 2011

Da falta de crises

Se eu estivesse internada estaria estável. Preciso urgentemente fugir dessa minha rotina desesperada de séries americanas, aquelas que mostram vidas acontecendo e indo embora. Preciso acontecer.
Além disso, sinto falta de criar laços. Perdi a vontade de ter mais pessoas para contar, perdi a sede de querer ser sempre o sorriso mais sincero. Perdi.
Nessa lista de 'precisos', falta o mais importante, cuidar dos meus. Esse meu espírito relaxado esqueceu de atentar para os pedaços jogados das minhas pessoas. Percebo tudo o que está passando, mas já não processo tanto coisa.
Isso tudo pode ser falta de crises, há tempos não crio monstros. Há tempos não sento aqui e despejo lamúrias inflamadas, incompreendidas e necessárias.
Ando triste por não poder estar triste. Aquela máxima de que 'vocês sofrem mais que eu'... ela voltou.
Preciso dessas histórias intensas de séries americanas para lembrar pelo que chorar na minha vida. Para lembrar que eu ainda vou ter muito o que chorar...

Me entenda, Lauryn.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Torto

Deixo a porta aberta se quiser voltar
mas saiba que eu também consigo viver só
A solidão quem me ensinou a ser mais forte
E a qualquer lugar eu vou sem medo (...)

Acordei estranha e quase ninguém percebeu.
Vou começar dizendo que é muito triste quando você descobre que está sozinha. Sem par.
Venho percebendo isso há dias, de maneiras diferentes e hoje não pude deixar de notar como ser sozinha é tão bom e ruim ao mesmo tempo. Detesto sentimentos ambíguos, como amor e ódio, ciúme e desejo, dor e alívio.
Em vez de matar esse nó lendo textos alheios e tentando encaixá-los nessa minha pequena história torta, resolvi que eu, melhor do que ninguém, seria a escritora fiel desse roteiro. Porque eu posso entender quase nada sobre cinema, mas posso contar uma história sem esquecer dos pontos finais...
São quase quatro anos de incertezas e passos em falso e, apesar dessa minha segurança montada, eu estou perdida. Com apenas 20 anos já me sinto calejada pelas tantas outras lágrimas que derramei quando não sabia o que dizer, mesmo que isso não importe tanto. Eu sei do sofrer pelo que já passei e me assusto em pensar que isso pode ser apenas um grão de areia comparado ao que um dia eu vou perder. São quase quatro anos segurando gritos, separando sentimentos e levando a vida da forma simples que eu sempre quis. Quase quatro anos, fingindo ser feliz sozinha, escondendo a falta de amor, me refugiando na saudade e dormindo encolhida no frio dessa cidade. Quatro anos, quase.
Eu já contei a algumas pessoas que meu maior medo é morrer sozinha. Por que? Tenho pouco contato com minha família, além dos meus pais e irmãos, vejo o restante apenas uma vez por ano. E é nessa única vez que vejo minha tia mais querida. Nunca me contarem ao certo, mas ela tem lá seus quase 70 anos, não teve filhos e não se casou. Quando acordo e percebo que nesses meus 20 anos não tive nenhum alguém, pareço mais próxima da história da minha tia. Ela é feliz, mas é sozinha. Eu sou feliz, mas sou sozinha...
Minha mãe sempre disse para eu parar de comparar meus passos com de sua irmã. Não consigo. Comparo e me assusto. É inevitável.
Eu ia escrever esse texto para uma determinada pessoa, mas prometi a mim mesma que isso não passaria de mais um lance errado no qual me meti. Acho que uma das coisas que mais sei fazer é errar, não apenas errar, mas errar feio. Se o amor é cego, mudo e surdo, o meu, além de tudo isso, é burro, manco e tem memória fraca. Ele nunca chega a tempo e sempre confunde o duvidoso com o errado. Sem intenções de escrever algo bonito e reflexivo, esse é um daqueles textos que expulso meus fantasmas e os vejo fora de mim...quem sabe assim não os entendo.
Se é que alguém lê o que escrevo aqui, queria dizer que está difícil dosar o desespero e a razão. Muito difícil. Eu sei que tem gente que pode dar um passo atrás depois dessas palavras, mas uma coisa é certa, eu não criei meus monstros sozinha. Só os alimentei sem medo de vê-los crescer.

Acabei não dizendo qual o lado bom de estar sozinha. Ser sozinha é não confiar em ninguém além de você e isso, meus queridos, só você pode mudar, ninguém pode quebrar e nem pedir de volta.
Boa noite.



E sim, eu gosto muito de Detonautas.

sábado, 2 de abril de 2011

Nota mental

Preciso dizer que eu não quero a minha vida de cabeça para baixo mais uma vez. Olha, eu já sofri muito há algum tempo e confesso que são poucas as recordações que quero levar comigo de toda aquela história. Infelizmente ela vem passando diante dos meus olhos diversas vezes e, sinceramente, saudade é a última coisa que eu sinto.
E, já que falei da saudade, precisava dizer que sinto falta de saber que posso contar com vocês. Nunca fiz o tipo de querer impor um fato que não é evidente, por exemplo, não posso ser aquilo que você não quer que eu seja em sua vida. Nesse caso, em suas vidas.
Eu acho que preciso voltar para casa e organizar as ideias, porque eu decidi hoje que não quero mais deixar pra lá. O dia foi longo e minhas tentativas de não pensar em vocês foi falha ao ponto de eu estar aqui, escrevendo mais uma vez.
Publico esse texto torto agora, mas provavelmente vou apagá-lo assim que me der conta que eu não posso fazer o melhor sozinha. Eu nunca pude.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Longe

"Só me lembro bem do preço do seu olhar.
E hoje me desfaço desse traço, sem pensar..."
(Tico Santa Cruz e Rodrigo Netto)

É mais uma madrugada. Mais uma entre tantas outras pensando o que pode ser do amanhã, e seria tão reconfortante saber que calmaria e pureza fariam parte daquelas 24 horas.
O que eu precisava há alguns dias era apenas escrever, mas o medo de despejar em poucas palavras o que saía torto pela boca foi maior. Precisamos digerir o que passa e passou.
Posso dizer agora que não é saudade o que sinto, entretanto existe algo que me recordo, algo que não é familiar.
Posso dizer também que vocês são poucos, mas não entenderam que são muito para mim... e é tão difícil dizer isso, mas eu não os conheço tão bem. Entre tantas histórias contadas entre garrafas de cervejas e risadas, me vejo vagando entre desconhecidos e fazendo parte da vida deles, sem necessitar de reciprocidade.
O que é isso? Não sei. É cômodo? É. Faz falta? Agora não.

Eu insisto na tentativa falha de repartir entre pessoas a ânsia de existir por elas, mas é evidente que vivo mais por uns do que por outros. Olha, eu já vivi muito por você. Já quis bater meu coração por você, respirar e ser o que você precisava, mas eu preciso de calor. Eu preciso de decisões erradas e reticências, preciso saber que você sai da linha para eu sair também. Preciso do calor. Acho que preciso também saber, agora de verdade, o que foi e o que é. Preciso do calor daquilo que você esqueceu guardado, ou queimou em pensamento. Preciso.

Estou te esquecendo sem saber se realmente te conheci. Por aqui, a lição de não precisar de você por perto está quase completa... mais algumas linhas e apenas uma lembrança virá acompanhada do seu nome: o seu silêncio.

Eu sei que provavelmente você não lerá esse texto. Talvez seja porque estamos mais longe do que pensamos um dia.