domingo, 18 de outubro de 2009

Embarque

Não é mais como antes, a confiança passou, o que resta aqui hoje querido, é a desconfiança. Ao invés de colocarmos sempre uma vírgula naquelas histórias por que não encerrarmos com um belo ponto final. Procuro entre suas palavras as verdades que costumo ver na boca de outros, verdades essas que não precisam ser contestadas e comprovadas, precisam ser apenas ditas.
Com você venho aprendendo que é bom manter os olhos bem abertos, um passo em falso não é raro, é constante. Nunca fui de comprovar fatos, porém não são apenas os seus argumentos que me fazem recorrer as insistentes perguntas, além deles seus trejeitos, olhares e entonações é que me dizem que algo ali está fora de mão.
Mentira dói. Experiências passadas já comprovaram isso. Funciona como se jogassem entre seus dedos uma bexiga, aparentemente inofensiva, mas que estoura ao simples espetar de uma agulha. Me entende agora? Sabe de uma coisa cara, você não me entende. Ainda me pergunto se em algum momento você quis fazer diferente. Voltar atrás no que disse e tentar reconstruir tudo o que suas antigas palavras ergueram.
O que te atrapalha são suas palavras, as mesmas que descrevem em situações as fantasias que rondam sua mente. Eu busco te entender, e me frusto ao saber que para o país da maravilhas que você criou eu ainda não tenho passaporte garantido.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Mais uma balada matonense

Você mora em uma cidade com quantos habitantes? 500 mil? 200 mil? 100 mil? Tudo bem, a cidade de onde eu venho provavelmente é menor que a sua. Matão tem 80 mil habitantes, número arrendodado pelos moradores que nunca se importaram em dizer que isso é a pura verdade. É evidente que as ambições de metrópole passaram bem longe daqui, da mesma cidade que usa como pontos de referência outras cidades do interior paulista... sim, se a Terra da Saudade não for o fim do mundo, já é concorrente para o posto.
As opções são poucas e é claro que a grande maioria dos matonenses escolhem a mesma. Festa grande, famosa, no estilo do interior, mas com um 'que' a mais: não é em Matão. Sim, você vê muita gente dizendo que não vai, não tem como. "Ah, sair de Matão esse fim de semana fica caro". Que pena, ou não, alguns conterrâneos vão ficar assistindo Serginho Groisman. Depois de se arrumar, ao olhar no espelho você repara na cara de animação. De quem? Sua é claro. O cheiro de programa de índio está impregnando seu quarto. O negócio é ir para a sala e esperar a carona. Você imaginou um carro cheio de amigos, que trazem no porta-mala um caixa de isopor abarrotada de cerveja gelada, whiskyes e energéticos. Mera ilusão, com a buzinada vamos até o carro. Ao som de Engenheiros do Hawai nos deparamos com um casal de namorados de maõs dadas.
Esse é o momento em que tudo faz sentido e o arrependimento de ter dito sim ao convite te faz engolir seco, ao mesmo tempo que você se ajeita no banco do carro. O caminho até a outra cidade segue tranquilo, até que você pensa: nada pode ser pior do que aquele churrasco com três pessoas desconhecidas e cerveja quente. Serviu de consolo.
Na entrada da festa uma multidão de pessoas... Tá preciso descrever isso de forma que o drama seja visto e interpretado da maneira correta, a que eu vi: uma multidão de pré-adolescentes e adolescentes com seus aparelhos dentários e sombrancelhas por fazer, gritando por qualquer motivo e lhe deixando a sensação de que você cresceu e seus dois fios de cabelo branco que apareceramm depois de algumas semanas de stress agudo, está sendo visto por todos, até pelo vigia de bigode e óculos escuros que acabou de acordar de um cochilo. Agora diga, pode ficar pior? Claro, eu sempre ouço por aí que desgraça vem de penca, e aquele dia era um dia propício. De repente você começa a reconhecer rostos. Um, dois, quatro, sete, quinze, vinte e três. Pois é, isso que dá morar em cidade pequena, rever amigos de infância, de escola, de lugar nenhum, aquele que você zuava quando era gordinho, aquele por quem você era apaixonada todos, todos reunidos no mesmo local. Queridos, nostalgia é um sentimento muito bonito e por vezes desejado, mas ah precisava de uma dose cavalar?
Você dá uma circulada e reconhece o ambiente, cumprimenta por aqui, faz comentários por lá e decide que a única salvação para aquela festa é a bebedeira, mesmo que a cerveja da festa seja Skol. Enquanto toca Lulu Santos você faz a lista de quem poderia estar ali, para zuar beber e causar. Lista feita, o negócio agora é interagir com o casal de pombinhos que realmente se esforça para que o pavio da vela logo termine. A ida ao banhiero é drástica. Mulher é realmente enojoada, quer ir ao banheiro com as quinze amigas exigindo que ele esteja limpo, tenha papel e que a fila não exista. Aquela mulher poderia ter pisado no meu pé com um salto fino, ter esbarrado em mim e derrubado minha cerveja, mas ela conseguiu me irritar apenas com o seu sotaque pernambucano. Nunca tive muito coisa contra os nordestinos, já que minha vó era baiana, mas juro que uma cabelça chata bêbada estressa qualquer um. Ela grita, causa, fura minha filha e ainda faz cara de brava. Dei-lhe um tapa na cara. Tá, esbofetiei só em pensamento... uma pena. Mais uma vez você tem que abstrair, ciente de que vão rolar mais encoxadas, mais bêbados e quem sabe um pouco de risadas.
Depois de um pouco de conversa, uma dançadinha e algumas latas de cerveja, que por sorte estava gelada, decide-se que o melhor a fazer é voltar para Matão e ir comer no lugar que sempre nos recebe bem, onde você encontra as mesmas peças que também tiveram a mesma ideia que você. A moral da história? Não me diga que o Baile do Hawai do Nautico em Taquaritinga é bom e diferente: tem tudo o que tem nos de Matão, inclusive os matonenses.


*Apesar dos pesares, eu me diverti. haha

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Entretanto

E na beira do surtar, me dei conta que é a hora de apontar os culpados. Aquelas pequenas coisas que inofensivamente me fazem mal. As inverdades, as relevações, a falta de compromisso e a ausência. Posso tentar definir de forma confusa o que se passa dentro desse emaranhado de ideias e chegar a conclusão de que ninguém melhor do que eu para resolver essa situação.
Não existiu um acontecimento que me despertou e apontou meus desvios de humor. Percebi hoje, quando acordei, depois de mais uma noite em claro e uma tarde improdutiva sobre a cama que não era o meu eu que estava dominando. Pensei em Deus, pensei nos meus pais, e pensei o porque da música lá fora estar tão alta, sendo que o momento por aqui não era de festa. Mero egoísmo, optei por continuar deitada tapando a cabeça com o cobertor, que já estava enrolado por todo o meu corpo, mesmo sendo um daqueles dias que lembram o verão. Insisti e consegui voltar a dormir, sonhei três vezes com a mesma coisa, ou acordei e não percebi que estava lembrando do meu sonho. Conversei em pensamento com meus irmãos, chorei baixinho para não atrapalhar meu próprio sono.
Me despertaram. Queriam que eu saísse de casa e fosse ver a bola brilhante que estava apontando alto, lá no céu. Eu não quis, preferi ver da minha janela a lua cheia que sem vergonha nenhuma, iluminou meu rosto. Andei pela casa, procurei o que fazer, me toquei que se quisesse fazer algo teria de abrir a porta e sair para rua. Me joguei de novo na cama, na esperança de alguém aparecer e compartilhar comigo um pouco da angústia que vinha me cercando, aos poucos, silenciosamente.
Alguém me ligou e disse que estava chegando em casa. Que alívio. Conversei por horas sobre os problemas dos outros, e mais uma vez cai na real: Gabriela, você também deve estar com problemas. Até agora estou com essa história na cabeça. Queria ter uma cartilha com os ensinamentos, com as soluções para sair ilesa de certas situações. Não consegui esfriar a cabeça. Não consegui saciar a fome de respostas. Não consegui dormir.
Quis dizer a meio mundo que preciso mais deles, mais atenção, mais carinho, mais respostas e mais vitórias. Minha vida amorosa é um desastre, não sou a filha exemplar, não tenho a preferência de nenhum dos meus professores, e eu imploro todo dia por atenção... atenção essa que todos dizem existir. Nas tentativas frsutadas de me fazer mudar, disseram que eu deveria contar mais sobre mim, no entanto, nenhum desses que condenaram meu silêncio abriram seus ouvidos e olharam nos meus olhos pedindo que eu falasse como foi meu dia. Desabafo aqui, minhas crises, meus desejos, minhas frustrações, para quem sabe um desses quem tanto reprovam minha conduta venha até mim e diga que hoje eu vou ter uma hora só para detalhar o que tanto eu quero dizer.
Não agirei de forma diferente da que venho agindo. Não tirarei o sorriso do rosto nem ficarei distante dos que caminham comigo. Apenas pensarei mais no colo da minha mãe e na possibilidade de desfazer esse nó aqui dentro.

domingo, 4 de outubro de 2009

Um pouco menos deles


Com as palavras certas você tem o poder de me dominar. Sim, você. Não olhe para o lado, nem tente imaginar que pode ser alguém que você conheça. Sou humana, muitas vezes decidida e por vezes influenciável. Sabe de uma coisa, já fiz coisas que eu não gostei para agradar a quem me faz bem. Não torça o nariz pensando que você nunca fez isso, pelo contrário, alguma vez na vida você correu para não ficar para trás, mesmo sabendo que não ia alcançar quem partiu primeiro. Viu, foi seu instinto.
Ainda vejo depois do nascer do sol pessoas como você caminhando sem olhar para o lado, talvez ela esfregue os dedos das mãos por ter visto alguém fazendo o mesmo. Ela pode acender o cigarro e levá-lo a boca posicionando-o milimetricamente no canto direito, tragá-lo com os olhos fechados e assoprar a fumaça com a cabeça erguida olhando para céu discretamente. É, pode ser instintivo, ao mesmo tempo que pode ter aprendido vendo seu pai fazendo da mesma maneira.
Já quis mudar o penteado, cortar aquela calça, ou parar de passar lápis nos olhos. Para quê? Para parecer com aquela menina que todos param para olhar. Mas, me dei conta que ia ser em vão. Vou dar destaque ao que tenho de diferente... quem sabe a pinta no lábio ou o cabelo bagunçado.
Estou ficando chata por tentar fazer apenas aquilo que quero. Não, não me entenda mal. Estou somente deixando de agradar a todos, praticando o não ser inteiramente agradável e sendo um pouco mais daquilo que os outros são comigo.