quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Enfim.

Ei menino, deixa eu te falar uma coisa: eu não sabia. Sempre fui de colocar o carro na frente dos bois, de dizer 'não faça isso' e me ver em instantes fazendo o que reprovei. Não é de hoje que venho me atrapalhando nas palavras, destilando meu veneno entre os corredores desse lugar, dizendo aos quatro ventos que eu não sou uma má pessoa, que eu quero o bem do próximo, ao mesmo tempo que julgo indivíduos pelo prazer de vê-los mal.
Eu já coloquei a culpa em você, em mim, neles, em que você imaginar, entretanto, ainda não vejo o motivo de tanto rancor em minhas mãos. Aconteceu. Acontece sempre, e continuará assim. Caminho por aí armada com argumentos que podem despir até o mais convicto dos nossos, mesmo sendo palavras falhas, construções que ao fundo não fazem sentido.
Eu nasci no dia 23 de agosto, sou virginiana, ainda não me sinto mulher e sou insegura. Sinto falta dos meus pais, choro de saudade, e sofro por orgulho. Já machuquei desde a unha do pé até a testa. Sempre fui teimosa mas, sou insistente até quando admito que errei. Eu erro sempre. Nunca arrasei corações. Ouvi uma vez "Gabriela, você tem que acreditar que as pessoas podem gostar de você; existe sentimento, a vida não é apenas uma questão de interesses". Sabe menino, eu ainda não acredito nisso.
Agora as borboletas na barriga não tem mais graça. Eu precisava dizer que muita coisa neste instante passou, mas temo pelo que há de vir. Estou desacreditada. Menino, o meu momento de tormenta não é sua culpa, não tome isso como mais um tijolo para a barreira que criei entre nós. E se possível pense como eu: até o muro de Berlim veio abaixo; eu não sou feita de concreto.
Eu escrevo cartas, e essa é uma delas, uma das poucas que foi endereçada, com o intuito de finalizar aqui o que me envolve por dentro. Imagino que eu não era a única que esperava as minhas palavras aqui, só temo pelo fato de ser aqui; mas eu ainda insisto que seja, a escolha foi minha.
Li esses dias por aí "Eu só quero que acabe logo pra virar texto". Não foi assim, eu exitei. Dei a mim mesma um tempo necessário para digerir o turbilhão de informações que recebi. Tudo bem, não foi um turbilhão, talvez tenha sido um balde de água fria. E eu sinto que eu ainda não escrevi tudo.
Mas menino, me explica, o que eu respondo para minha mãe quando ela diz: "Eu sei que aquela noite que você me ligou chorando não foi pela chapinha queimada, ou a nota baixa na faculdade. O que aconteceu Gaby?"
Talvez eu diga que as coisas não andam dando certo e que além disso a minha ficha demora para cair.

2 comentários:

À vontade.