segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Quando


Quando tomei a decisão de ir embora, jurei baixinho que ia escrever o suposto texto de despedida apenas quando ela se concretizasse de fato. Menti.
Guardo há dias essa angústia desmedida da partida, essa coisa que é fria e dá calafrios.
Pouca gente sabe, mas eu estou feliz. Preciso de estabilidade, de ter algo para reclamar - mesmo que seja o fato dos meus pais serem atenciosos demais e me amarem incondicionalmente.
Quando tudo isso se tornou concreto e coloquei a primeira parte desses quatros anos dentro de uma caixa, não pude deixar escapar, por um minuto que fosse, minha vontade de ficar com os olhos borrados e inchados. Me contive, porque sofrer por antecedência é um defeito meu, que não pode ser passado adiante.
Quando tive uma das crises por conta dessa mudança, decidi que deveria escrever uma carta para cada pessoa que me deixou estar ao lado, me serviu como muleta e doou um pouco de tudo o que eu precisava durante esses anos. Essa ideia foi esquecida há tempos. Algumas experiência me fizeram céticas em relação ao "para sempre". Aceitei as turras que tudo que começa um dia acaba, pode ser na hora da partida ou em um simples desencontro. Assumo aqui que acabou, talvez um dia eu volte a pertencer a esse lugar, mas por enquanto estou acenando e dizendo adeus, nos vemos por aí.
Soa pessimista, para alguns egoísta. Para mim? A verdade momentânea. Que os dias me façam mudar de ideia.
Quando retirei algumas fotos da parede percebi que as minhas pessoas são outras. As minhas pessoas mudaram. Mudaram de cabelo, de jeito, de sotaque, de estilo, mudaram de tamanho, de importância. A vida se torna melhor quando a gente muda, assim não cansamos de viver.
Quando me pego pensando no por que dos momentos de tristeza, sempre me recordo que já passei por isso e deveria ter aprendido mais com meus erros do passado. A questão de valores é um sério problemas nessa minha vida perdida entre as prioridades e essa relação confusa com a matemática. Talvez eu seja a lição do sábio, o que aprende com os erros dos outros, não com os próprios.
Quando eu sentir de novo tudo isso aqui que eu venho prorrogando, pode ser que esteja sozinha novamente, debruce pela última vez na janela e veja a visão privilegiada que tive durante alguns anos do nascer do sol. Se estiver acompanhada, posso te chamar para ir comigo.
Quando morei sozinha por três anos, me senti livre por três anos, me senti abandonada por alguns meses e só por tantos outros. Fui feliz por quatro, sem sombra de dúvidas.
Eu já não tenho mais manejo com as palavras como antigamente. Estranho, achei ingenuamente que amadurecendo, o mínimo que fosse, faria com que meus dedos digitassem mais rápido e com mais firmeza o que não podia escapar pela boca. Mais uma vez, engano. Fico sem jeito, a falta de pudor com as palavras perdeu-se entre as teclas. Sumiu.
Quando me propus a escrever sobre a última semana, pretendi exalar amor. Uma pena, esse amor guardo aqui, intacto. Comigo apenas. Por fim, todas as palavras só conseguem apontar para uma: saudade.
Pode parecer bobo daqui 10 anos, Gabriela, mas você vai sentir muita saudade.

2 comentários:

  1. Tenho algo para lhe falar, mas o espaço é pequeno. Ao ler isso, muita coisa veio a minha cabeça, lembranças e mais lembranças. Te entendo ao ler seu texto, mas te ganranto uma coisa, e isso vc vai ler no texto que te mandar !!!
    É a vida que começa!!

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  2. Adorei o texto, tão sincero. Mudar é bom, vivo procurando isso tb, mas é doloroso né?

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