segunda-feira, 20 de julho de 2009

Meu encosto

Ele já leu meus diários, já quase me atropelou, quase me matou, me odiou por anos, já pediu para que eu não fosse embora, já pediu para eu ir, já me agradeceu em silêncio por ficar calada e mesmo ele não querendo vamos sempre estar ligados, afinal de contas irmão você não escolhe, você tem e ponto.
Eu não tive de esperar por ele, ele pelo contrário, aguardou nove meses para me ver. O menino mimado passou a me ver como inimiga. Como sei disso? Nas rodas de conversa em família sempre se descobre uma história por aqui e outra acolá. Fico atenta e aguardo o momento certo para pentelha-lo. Irmã caçula é um ser adorável.
Já brigamos feio, já bati porta e perguntei por que ele não ia embora, mas me arrisco a dizer que não fiquei mais de um dia sem falar com ele. Ai como suas manias são chatas, seu jeito empinado de dizer que estou errada, sua voz grossa e alta me calando e suas lições de moral... ah suas lições que teimam em me dizer o quanto sou inexperiente e tola.
Suas notas sempre foram as melhores, ele sempre foi o mais inteligente, o mais esforçado, o mais tudo. Pelo menos em casa sobrou para mim o título de mais mimada, não que isso seja motivo para orgulho, mas antes este posto do que nada.
Adoramos rir juntos, mesmo que seja de coisas diferentes, adoro discutir com ele sobre mau gosto e fofocar sobre a vida alheia. Brincar com a minha mãe deixando ela de cabelos em pé, correr atrás do último pedaço de pizza, ou tirar par ou ímpar para ver quem vai ligar para o cara do lanche é coisa que acontece a toda hora, mas não perde a graça nunca.
Ele me chantageia, não me deixa dormir, e prefere sempre a minha televisão, a minha cama e o meu quarto. Já paguei um real para ter o controle remoto em mãos por cinco minutos. Com a rapidez de uma lebre ele conseguia o que queria, no entanto, eu tenho algo que ele não tem: uma cara de choro muito convicente.
Não somos amigos, somos irmãos. Isso é fato. Ele nunca me chamou para sair, e eu muito menos. Seus amigos me conhecem, entretanto se vi três deles seus rostos já foram apagados por outros. Um dos meus passatempos na infância era mexer nas suas coisas, porém ter um irmão sistemático e chato é sinal de bronca na certa. Essa fase passou, mas como era divertido.
Ainda não perdi o costume de gritar: "Mãããããe, cadê a Coca que eu comprei???". Até meu cachorro já sabe a resposta: "O Tiago passou por aqui."
Ele está gordo, sempre foi feio e chato, e eu não sou parecida com ele. Ainda não sei como posso amar um ogro como ele, no entanto não teria graça se na nossa casa ele não existisse. Prefiro tê-lo por perto, assim tenho em quem botar a culpa pelo leite condensado roubado.
Vou ali tentar salvar o último pedaço de pudim e agarrar o controle remoto. Meu irmão está chegando.
Até mais.

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